sábado, 19 de novembro de 2011

18/19 de novembro: O dia em que minha máscara CAIU!


Oi meus queridos,

Nem sei como começar meu depoimento de hoje. Pensem numa situação PUNK!?!
Foi o que me aconteceu. Ontem por volta das 16 horas, uma febre besta (38°) me levou de volta ao CAIO (aquele da postagem passada, lembram?).
Na verdade o que me levou mesmo, foi a insistência da Tainá, afinal, febre é sinal de alerta, no meu estado.
Então, muito a contragosto, lá fomos nós.
O atendimento, como já contei, demora. Quando chega a sua vez, aí, é só bamba pra lhe cuidar. Ontem não foi diferente...
Acontece que não sei por que cargas d’água, eu EMPANIQUEI! Se a palavra não existe, acabei de inventar, e, portanto, vou explicar o significado: EMPANICAR: entrar em pânico incontrolável, sem nenhum motivo justo, porém, tendo a certeza do contrário!
De repente, na minha cabeça se eu atravessasse a porta que leva para a internação, só sairia dali, para o outro lado da rua: o cemitério do Araçá! Empaniquei. Quando finalmente a médica me atendeu (lindinha, um pedacinho de gente-anjo vestida de branco, com um sorriso maroto e um olhar de peralta-competência) Dra. Juliana que já havia analisado meu prontuário, comunicou, com quase leveza, que me internaria para alguns exames, o que talvez, poderia durar até domingo, ou segunda-feira, quando terei quimioterapia.
O pânico quase me fez gritar NÂO! Não fico!
Tainá, que normalmente é o stress em pessoa, me surpreendeu com uma calma de madre carmelita: “Mãe, calma, vamos fazer os exames, espera o resultado. Cada coisa há seu tempo, tá bom?”
Não. Não tá!
Na minha cabeça, a imagem de um enterro chinfrim, com meia dúzia de “gatos pingados” (afinal, são poucos os que nos cercam em São Paulo) sem a coroa de flores da mãezinha, o discurso de Luizinho, o Frank e o Danilinho cantando com seus violões e flautas, a Aniole amparando a Tainá, o povo dos assentamentos recitando cantilenas, os amigos sinceros, levando seu adeus, (e tudo isso em Carnaubais!) É mole?!? Meu filho, meus irmãos, minha família, Irará, Wanderley, Waldir, Ana e Túlio, minha parceirinha Adriana, quem sabe Getúlio Moura, enfim um enterro que valesse a pena postar no Tô com Aquilo!
Isso tudo, meus queridos, passava na minha cabeça, enquanto a FANTÁSTICA equipe do CAIO, cuidava de mim, como se não percebesse meu idiota estado de EMPANICAMENTO!
Eu, só repetia às vezes chorosa, às vezes arrogante, que queria ir para casa. Colheram o sangue, o xixi, fizeram um catatau de medicação e eu enchendo o saco e a paciência ilimitada do povo, repetindo como papagaio que queria ir para casa. Foram mais de 12 horas nessa batida. Saí do CAIO mais de 5:00h da manhã, em jejum de mais de 14 horas (me neguei a comer!) com alta médica e novos amigos anjos.
Foi a pior experiência que passei nos últimos tempos: a máscara caiu, tal qual as torres gêmeas! Não sou forte, não estou conformada nem pronta prá morrer em Sampa. Meu personagem ontem mostrou que precisa mais ensaio e fé!
O atendimento começou pela enfermeira Natália, uma ruiva que parece levar o sol nos cabelos e no olhar apaixonado. Menina, demonstra que tem pela profissão um amor visceral. Me atendeu e acompanhou a noite toda, com uma simpatia e zelo indescritíveis.
Meu próximo anjo foi a Dra. Juliana, de quem já falei lá em cima. Porém, preciso falar mais desta incrível criatura: Ela é pneumologista, descobriu que NASCEU para ser médica, aos 4 anos, passando visita com o pai, nos hospitais. Juliana é a imagem do SERVIR COM AMOR. Quando dei meu PITI particular, lá veio ela, sorriso maroto, perguntando se tinha perdido muita coisa!?! Com delicadeza e sabedoria mil vezes superiores as minhas (e ela é só uma menina!) reverteu o processo e literalmente me “segurou” enquanto o perigo real me rondava.
Aí o atendimento propriamente dito da coleta de sangue, que a Leonor veio buscar, executada pelas dedicadas e abençoadas Della e Natalia (a primeira veia não segurou!), a administração e aplicação da medicação coordenada e assistida com carinho literal da Joze, que ficou horas conversando comigo, enquanto os remédios faziam sua parte, a atenção da Luciana que de tão discreta não permitiu que eu visse o tempo passar... até a alta concedida pelas Dras. Lívia e Carla, já com o sol apontando, foi uma noite para agradecer. A Deus, por me colocar no lugar certo, no tempo e nas mãos de pessoas certas, a Tainá, que apesar dos meus chiliques e grosserias, e de estar física e emocionalmente cansada, tem sido gigante no seu amor e cuidado irrestrito, aos profissionais que passando por cima da minha idiota irresponsabilidade, cumprem seu papel com dedicação messiânica, enfim, a vida que todo dia me dá uma nova chance, só tenho a AGRADECER . Obrigada, perdoem minha fraqueza e fragilidade. Decididamente não sou a mulher maravilha! Queria também agradecer a Márcia da coordenação do CAIO, pelo atendimento diferenciado que deu a mim e minha filha.
Vou voltar a falar de cada uma dessas pessoas, nas próximas postagens.
Por hoje, quero dizer a todos os que me acompanham, que entendi a importância de algumas coisas e devo isso ao câncer: Acho que ele veio para me devolver a fé. Em Deus, nos profissionais da saúde, (ainda existem muitos) que trabalham com e por amor, nos amigos visíveis e invisíveis como as Célias Rangel e Narciso e a Carla Ceres que me visitam TODOS os dias, dando força e luz!) em políticos decentes, como Luizinho Cavalcante e muitos da sua equipe, no amor dos meus familiares, inclusive no dos que eu não via a mais de 30 anos... enfim, o câncer está me fazendo reaprender valores e valorações. Obrigada!
Foram horas de terror para essa cabeça doida e esse coração confuso. Mas, passaram como tudo na vida.
Estou em casa, fazendo almoço e lutando para permanecer produtiva, alegre e digna por mais um dia. E só por hoje, com tanta graça a agradecer, posso dizer de boca cheia: eu sou muito amada por Deus!
__________________________________________________

Para todos os profissionais do ICESP...


Em especial para o Vinícios, o Régis, o Guilherme, a “Bündchen”, todos da recepção, Raquel da psicologia, para as Dras. Laura, Sarah, Juliana, Pricila, Luciana, Lívia, Carla, para o corpo de enfermagem, Silvania, Joze, Raimunda, Natalia, Luciana, Della, Leonor, Andréia,e todos os que não sei ou não lembro os nomes (perdoem, é da idade), quero dizer, do fundo da alma, que os amo, e que o dia em que eu for EMBORA, vou levá-los no peito, num coração feito de flores.
Vocês tem feito menos penosa a minha luta.
Aos outros pacientes, com quem brinco e procuro incentivar, quero pedir: não desistam, continuem lutando e agradecendo a Deus por cada dia.
Viver é melhor que sonhar. Prometo que vou fazer de tudo pra não fraquejar de novo. Mas se eu pisar na bola, perdoem e entendam. No fundo, eu sou só uma “garotinha” assustada, empanicada, com muita vontade de terminar minha missão com dignidade.

Mil beijos,        
Tania Pinheiro.

5 comentários:

Unknown disse...

Se sentir criança é uma dádiva, tanto pela inocência como pelo medo que às vezes é inevitável. O medo nos faz prudentes, faz valorizar cada conquista, cada obstáculo superado. Os seus não são fáceis porém com a sua vontade de viver que enche uma sala inteira estou certa de que irá superá-los dignamente, com a coragem que o medo nos empresta.
Um beijo carinhoso da sua "enfermeira russa", quase Valentina porém Natália.

Célia disse...

Tania! Reverencio-me à sua capacidade de encenar "comédia" em fatos contundentes de sua vida! EMPANICAR... não vou me esquecer desse termo! E, sabe, apesar de você contar toda a sua penúria médica... eu ri, pois você, ainda assim... querendo ensaiar um enterro bonito; uma morte gloriosa... Ah! Mulher! Só você mesmo para tanto!! Cante! Dance! Comemore! Deus precisa de você aqui para ensinar-nos e muito!!
Bom e lindo domingo para você e a Tainá! Beijos. Célia.

Carla Ceres disse...

Tania querida, obrigada por me mencionar na postagem! Sei muito bem pelo que você passou. Você diz "empanicar", eu digo "panicar". :) Já paniquei muitas vezes. Acontece. Gente forte e guerreira também panica. Precisamos tentar manter a calma para ajudar as pessoas que tentam nos ajudar. Agora, preste atenção numa coisa: você está em São Paulo para ficar boa e vai ficar ótima. Quer se conformar com algo importante? Conforme-se com o fato de que você vai lutar e vencer. Beijos!

Jozi - Icesp disse...

Tania querida, como é maravilhoso saber que existem pessoas tão corajosas e valentes como vc, senti-me imensamente honrada com os comentários recebidos, sim trabalhamos com muito amor, o dinheiro é importante porque, infelizmente, não vivemos sem ele, mas a dedicação e o carinho pelos nossos pacientes são infinitamente maior que tudo, é gratificamente saber que nosso trabalho é tão valorizado por anjos como vc e muitos outros que atendemos, continue incentivando muito aqueles que ainda não tem a aura tão límpida como a sua, que ainda não tem força e maturidade para encarar com força, coragem e graça a tribulação que a vida hoje impõe. Vc faz a diferença! Ah, não esqueci nosso café, espero vc e a Thainá. Beijos. Jozi

George Facundo disse...

Você esqueceu de mencionar, no seu enterro, aquele cara de meia idade lá atrás, cabelos semi grisalhos, na altura de 56 anos, do lado de uma coroa enxuta (esposa dele), e um menino de 10 anos com a camisa do Iron Maiden (filho dele). E esse coroa pensava: "Pense numa velhinha resistente essa Tânia, morreu as gargalhadas (aquelas que só a Tânia tem) de um ataque cardíaco num show de humor. Esse coroa no seu enterro sou eu viu Tânia Pinheiro! Pode esperar sua comunistazinha lesbiana! Xeiro!