terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ao som da saudade!


Oi meus queridos,

Hoje, estou aqui para falar de coisas que aquecem a alma e o coração.
Era final de outono, e o céu esplendidamente azul iluminava, dava vontade de correr, sorrir, brincar... Eu deveria ter uns 10 ou 11 anos. Como em todos os domingos, acordamos cedo, tomamos café e saímos, meu pai e eu.
Às vezes, íamos à feira e comprávamos um belo peixe para o almoço, ou íamos ao cinema na sessão das 10:00 horas, para ver Tom e Jerry, Pica-Pau... Às vezes, pegávamos qualquer ônibus e íamos conhecendo São Paulo. Tucuruvi, Pinheiros, Parelheiros, Brooklin, as praças do Centro e do Bexiga...
Neste domingo que contarei agora, tudo foi diferente: Tomamos o ônibus Praça Ramos, fomos até o ponto final e descemos ao lado do Teatro Municipal de São Paulo.
A grandiosidade e imponência do lugar, tomava conta de tudo: A luz difusa, que nos roubava a certeza de ser noite ou dia, o ar impregnado de perfumes, os tapetes vermelhos, a escadaria de mármore, as estatuetas em bronze, os lustres e candelabros de cristal... Todos os funcionários, impecáveis no vestir e amabilíssimos ao atender as pessoas; Indicavam a cada um o local correspondente ao seu assento.
O projeto “Concertos para a Juventude” acontecia aos domingos pela manhã, no horário das 10:00 horas, o que deixava “livre” o resto do domingo. Era gratuito, pegava-se o ingresso na bilheteria e então, após atravessar uma pesada cortina de veludo, víamos abestalhados, a suntuosidade do local!
O palco enorme, o fosso da orquestra, a iluminação impecável, o tapete fofo para abafar os sons dos sapatos altíssimos das frequentadoras...
O programa do dia anunciava: Cantata 147 – Bach, um trecho da ópera Aída de Verdi, terminando com o Trenzinho do Caipira (do nosso grande) Villa Lobos, executadas pela Orquestra Sinfônica de São Paulo e regidas por um jovem e promissor Maestro.
Já acomodados em nossos lugares, (ficamos numa frisa, à direita do palco) ouvimos o primeiro toque da campainha, o teatro escureceu. No segundo toque, a luz voltava vagarosamente, enquanto víamos as cortinas se abrirem qual pétalas de flores. No terceiro sinal, músicos colocados, luzes em perfeita graduação, silêncio absoluto, adentra ao palco o maestro, que mostrava-nos com seus passos firmes, saber muito bem o que estaria fazendo!
Conforme o programa transcorria, eu chorava emocionada, segurando a mão do meu pai. A escola, meu pai frequentou muito pouco, mas foi sem dúvida, o homem mais sábio e inteligente que conheci na minha vida.
A cada acorde, a cada movimento preciso, a cada mínimo gesto que o maestro exercia no palco, eu os imprimia no meu coração e cérebro.
Ao finalizar, um locutor em off, apresentava os membros da orquestra, chamando pelo nome um a um com seu devido instrumento. Estes levantavam-se recebiam o aplauso merecido e permaneciam em seus lugares. Quando chegou a vez de apresentar o Maestro LEONARDO BRUNO, todos ficaram de pé e, sem qualquer cerimônia, aplaudiam, assoviavam, gritavam bravo!
E eu, num dos momentos de maior emoção de toda a minha existência, fiz um pacto com Deus: meu filho teria esse nome, e por influência dele, seria sensível, educado, culto, inteligente, para quem sabe um dia, ter a sua própria trupe. Acreditei que meu filho seria capaz de desempenhar bem o que se propusesse a fazer.
Como disse antes, eu tinha 10 ou 11 anos, nem sonhava com namoricos, brincadeiras, o papo sem sal dos meninos adolescentes daquele tempo.
Há 33 anos, meu pai pegou nos braços pela primeira vez, o meu Leonardo Bruno. Pequenino como todo recém nascido, com um par de olhos muito curiosos, sabendo que estava em casa, onde além de esperado e sonhado, reinaria absoluto por uns bons pares de anos.
Tudo o que pedi, Deus me deu, e juro, mesmo errando algumas vezes, dei o que pude para fazer dele o homem que é! Honesto, amigo, tinhoso, educadíssimo, e, apesar de não ter facilidade em se demonstrar afetivo, acredito que ele me queira bem. Vive a vida que escolheu, e mesmo sabendo que não escolheu o que eu queria ou sonhava para ele, é o trabalho que o realiza e faz feliz. Fui muito bem atendida pelo Pai. O MEU LEONARDO vale (e ainda sobra troco) cada noite insone, cada momento de medo, ou apreensão (desde os primeiros passos até o primeiro dia que o vi fardado), cada gol que nas peladas da vida ele transformou em “obra de arte”, cada palhaçada que ele se dispôs (em busca de um sorriso meu), cada vez que quando pequenino, me abraçava o pescoço e dizia “que me amava do tamanho de um elefante”.
Na verdade, você e sua irmã são os únicos motivos pelos quais enfrentei tantas lutas, engoli tantos sapos, fingi aceitar coisas que abominava, foi por vocês e por mais nada ou ninguém, que achando ser essa a maneira certa de fazê-los felizes, fiz o inverso e chorei lágrimas de sangue quando percebi o meu erro. Foi por vocês que optei não colocar ninguém na minha vida, que pudesse ser inconveniente, manipulador, “falso pai”, pois acreditei, e tentei de todo coração dar aos dois todo o amor que tenho disponível.
Pelos erros que errei e foram muitos, pelas vezes que faltei (quase sempre por conta do trabalho), pela mãe “medíocre” que fui em muitas ocasiões, por tudo de ruim que possa tê-los ferido, peço perdão.
Você, Léo, nasceu nos primeiros minutos do dia 29 de outubro. Antes de entrar em choque anafilático, isso me foi contato as gargalhadas, tempos depois, pelo médico Antenor Giomédes, que fez o parto de vocês dois, que perguntei aflitíssima, se era o Leonardo Bruno (como coisa que se não fosse, desse pra devolver), graças a Deus era (risos).
Feliz aniversário meu “MAESTRO”, seja muito, muito feliz!
Amo você!

Mil beijos,
Tania Pinheiro. 



5 comentários:

Carla Ceres disse...

História linda, Tania! Feliz aniversário pro seu filho Leonardo Bruno! Vi alguns "Concertos para a Juventude" na TV. Imagino a emoção de assistir a um no teatro. Seu pai soube lhe dar um momento inesquecível. Raros pais têm essa sensibilidade. Parabéns pela família toda! Beijos!

Célia disse...

Seu texto de vida, Tania, complementa-nos de sentimentos, de amores, lembranças e saudades felizes! Comemorar Vida é pra todo dia! Na simplicidade mora a grande sensibilidade dessa família! Parabéns! Beijos, Célia.

Leonardo disse...

Ontem, 28 de Outubro, estava com uma baita fome, e lembrando muito da minha infância,dos meus momentos de família. Lembrei de uma das coisas que você mais fazia, ao "jeitinho" brasileiro, mas que com um carinho tão grande, sem falar no seu enorme talento na cozinha, ficava tão gostoso; MEXIDO! Fui pra cozinha, e tanto ao fazer o referido "prato", como ao saboreá-lo, fizeram ver quem eu sou, e que foi aos sabores de inúmeros "mexidos" que cresci. Bem nutrido diga-se de passagem, mas à base de muito carinho e dedicação. Cada dia da minha vida, me pergunto e agradeço a Deus, o porquê de estar tão longe de vocês. Mas acima de tudo, agradeço a Ele a você por me fazer quem sou, porque se sou quem sou hoje é graças à vocês! Por isso MÃE, hoje, te agradeço por toda dedicação e carinho, amor e empenho, em fazer de mim o que sou hoje. Te amo muito, mas MUITO MESMO! E não é porque eu não demonstre, na maioria das vezes, que eu não sinta...

Tania Pinheiro disse...

Filhão, foi bom demais ter sua resposta no blog, fiquei feliz por vários motivos, pelas suas palavras e lembranças, por saber que mesmo cansado do trabalho vc respondeu a tempo e a hora, mas, de verdade, o que me deixou mais contente foi postar a tua foto e mostrar o homão que eu botei no mundo. Você sabe o quanto te amo. O quanto sinto sua falta e principalmente, o quanto me alegra quando escuto sua voz. Mas, nem tudo é como queremos.
Obrigada por ser o homem que vc é e ter me dado a felicidade de ser sua mãe.
Zilhões de beijos e seja muuuuuuito feliz!

Mamãe.

Tania Pinheiro disse...

Carla e Célia, minhas amigas amadas. Sim, eu fui uma abençoada, meu pai que sem dúvida, além de melhor amigo, foi a pessoa que me incentivou a leitura, a música, a poesia, o gosto por cozinhar, principalmente pra quem se ama. Amo minha mãe, mas ídolo mesmo é o Jackson. Criei meus filhos tentando fazê-los ao menos parecidos com o avô, acho que acertei. São duas jóias que tenho na vida. Obrigada por estarem com a gente nesse momento.
Beijos!!!
Tania.