Oi meus queridos,
Hoje, estou aqui para falar
de coisas que aquecem a alma e o coração.
Era final de outono, e o céu
esplendidamente azul iluminava, dava vontade de correr, sorrir, brincar... Eu
deveria ter uns 10 ou 11 anos. Como em todos os domingos, acordamos cedo,
tomamos café e saímos, meu pai e eu.
Às vezes, íamos à feira e
comprávamos um belo peixe para o almoço, ou íamos ao cinema na sessão das 10:00
horas, para ver Tom e Jerry, Pica-Pau... Às vezes, pegávamos qualquer ônibus e
íamos conhecendo São Paulo. Tucuruvi, Pinheiros, Parelheiros, Brooklin, as
praças do Centro e do Bexiga...
Neste domingo que contarei
agora, tudo foi diferente: Tomamos o ônibus Praça Ramos, fomos até o ponto
final e descemos ao lado do Teatro Municipal de São Paulo.
A grandiosidade e imponência
do lugar, tomava conta de tudo: A luz difusa, que nos roubava a certeza de ser
noite ou dia, o ar impregnado de perfumes, os tapetes vermelhos, a escadaria de
mármore, as estatuetas em bronze, os lustres e candelabros de cristal... Todos
os funcionários, impecáveis no vestir e amabilíssimos ao atender as pessoas;
Indicavam a cada um o local correspondente ao seu assento.
O projeto “Concertos para a
Juventude” acontecia aos domingos pela manhã, no horário das 10:00 horas, o que
deixava “livre” o resto do domingo. Era gratuito, pegava-se o ingresso na
bilheteria e então, após atravessar uma pesada cortina de veludo, víamos
abestalhados, a suntuosidade do local!
O palco enorme, o fosso da
orquestra, a iluminação impecável, o tapete fofo para abafar os sons dos
sapatos altíssimos das frequentadoras...
O programa do dia anunciava:
Cantata 147 – Bach, um trecho da ópera Aída de Verdi, terminando com o
Trenzinho do Caipira (do nosso grande) Villa Lobos, executadas pela Orquestra
Sinfônica de São Paulo e regidas por um jovem e promissor Maestro.
Já acomodados em nossos lugares,
(ficamos numa frisa, à direita do palco) ouvimos o primeiro toque da campainha,
o teatro escureceu. No segundo toque, a luz voltava vagarosamente, enquanto víamos
as cortinas se abrirem qual pétalas de flores. No terceiro sinal, músicos
colocados, luzes em perfeita graduação, silêncio absoluto, adentra ao palco o
maestro, que mostrava-nos com seus passos firmes, saber muito bem o que estaria
fazendo!
Conforme o programa
transcorria, eu chorava emocionada, segurando a mão do meu pai. A escola, meu
pai frequentou muito pouco, mas foi sem dúvida, o homem mais sábio e
inteligente que conheci na minha vida.
A cada acorde, a cada
movimento preciso, a cada mínimo gesto que o maestro exercia no palco, eu os
imprimia no meu coração e cérebro.
Ao finalizar, um locutor em
off, apresentava os membros da orquestra, chamando pelo nome um a um com seu
devido instrumento. Estes levantavam-se recebiam o aplauso merecido e
permaneciam em seus lugares. Quando chegou a vez de apresentar o Maestro
LEONARDO BRUNO, todos ficaram de pé e, sem qualquer cerimônia, aplaudiam,
assoviavam, gritavam bravo!
E eu, num dos momentos de maior
emoção de toda a minha existência, fiz um pacto com Deus: meu filho teria esse
nome, e por influência dele, seria sensível, educado, culto, inteligente, para
quem sabe um dia, ter a sua própria trupe. Acreditei que meu filho seria capaz
de desempenhar bem o que se propusesse a fazer.
Como disse antes, eu tinha
10 ou 11 anos, nem sonhava com namoricos, brincadeiras, o papo sem sal dos
meninos adolescentes daquele tempo.
Há 33 anos, meu pai pegou
nos braços pela primeira vez, o meu Leonardo Bruno. Pequenino como todo recém
nascido, com um par de olhos muito curiosos, sabendo que estava em casa, onde
além de esperado e sonhado, reinaria absoluto por uns bons pares de anos.
Tudo o que pedi, Deus me
deu, e juro, mesmo errando algumas vezes, dei o que pude para fazer dele o
homem que é! Honesto, amigo, tinhoso, educadíssimo, e, apesar de não ter
facilidade em se demonstrar afetivo, acredito que ele me queira bem. Vive a
vida que escolheu, e mesmo sabendo que não escolheu o que eu queria ou sonhava
para ele, é o trabalho que o realiza e faz feliz. Fui muito bem atendida pelo
Pai. O MEU LEONARDO vale (e ainda sobra troco) cada noite insone, cada momento
de medo, ou apreensão (desde os primeiros passos até o primeiro dia que o vi
fardado), cada gol que nas peladas da vida ele transformou em “obra de arte”,
cada palhaçada que ele se dispôs (em busca de um sorriso meu), cada vez que quando
pequenino, me abraçava o pescoço e dizia “que me amava do tamanho de um
elefante”.
Na verdade, você e sua irmã
são os únicos motivos pelos quais enfrentei tantas lutas, engoli tantos sapos,
fingi aceitar coisas que abominava, foi por vocês e por mais nada ou ninguém,
que achando ser essa a maneira certa de fazê-los felizes, fiz o inverso e
chorei lágrimas de sangue quando percebi o meu erro. Foi por vocês que optei
não colocar ninguém na minha vida, que pudesse ser inconveniente, manipulador, “falso
pai”, pois acreditei, e tentei de todo coração dar aos dois todo o amor que
tenho disponível.
Pelos erros que errei e
foram muitos, pelas vezes que faltei (quase sempre por conta do trabalho), pela
mãe “medíocre” que fui em muitas ocasiões, por tudo de ruim que possa tê-los
ferido, peço perdão.
Você, Léo, nasceu nos
primeiros minutos do dia 29 de outubro. Antes de entrar em choque anafilático, isso
me foi contato as gargalhadas, tempos depois, pelo médico Antenor Giomédes, que
fez o parto de vocês dois, que perguntei aflitíssima, se era o Leonardo Bruno
(como coisa que se não fosse, desse pra devolver), graças a Deus era (risos).
Feliz aniversário meu “MAESTRO”,
seja muito, muito feliz!
Amo você!
Mil beijos,
Tania Pinheiro.