DICAS CULTURAIS

Esse video é simplesmente encantador! Mais uma dica do nosso amigo Luciano... Valeu querido, obrigada por compartilhar!



A falta que o respeito nos faz

Essa dica cultural veio dos amigos Luciano e Marilene, da Plena Comunicação -RN.
O livro de Leonardo Boff - “Convivência, Respeito, Tolerância” Editora Vozes 2006
Leia uma pequena “amostra” e diga: dá ou não dá vontade de ler?



A cultura moderna, desde os seus albores no século XVI, está assentada sobre uma brutal falta de respeito. Primeiro, para com a natureza, tratada como um torturador trata a sua vítima com o propósito de arrancar-lhe todos os segredos(Bacon). Depois, para com as populações originárias da América Latina. Em sua “Brevíssima Relação da Destruição das Indias”(1562) conta Bartolomé de las Casas, como testemunho ocular, que os espanhóis “em apenas 48 anos ocuparam uma extensão maior que o comprimento e a largura de toda a Europa, e uma parte da Ásia, roubando e usurpando tudo com crueldade, injustiça e tirania, havendo sido mortas e destruídas vinte milhões de almas de um país que tínhamos visto cheio de gente e de gente tão humana”(Décima Réplica). Em seguida, escravizou milhões de africanos trazidos para as Américas e negociados como “peças” no mercado e consumidos como carvão na produção.
Seria longa a ladainha dos desrespeitos de nossa cultura, culminando nos campos de extermínio nazista de milhões de judeus, de ciganos e de outros considerados inferiores.
Sabemos que uma sociedade só se constrói e dá um salto para relações minimamente humanas quando instaura o respeito de uns para com os outros. O respeito, como o mostrou bem Winnicott, nasce no seio da família, especialmente da figura do pai, responsável pela passagem do mundo do eu para o mundo dos outros que emergem como o primeiro limite a ser respeitado. Um dos critérios de uma cultura é o grau de respeito e de autolimitação que seus membros se impõem e observam. Surge, então, a justa medida, sinônimo de justiça. Rompidos os limites, vigora o desrespeito e a imposição sobre os demais. Respeito supõe reconhecer o outro como outro e seu valor intrínseco seja pessoas ou qualquer outro ser.
Dentre as muitas crises atuais, a falta generalizada de respeito é seguramente uma das mais graves. O desrespeito campeia em todas as instâncias da vida individual, familiar, social e internacional. Por esta razão, o pensador búlgaro-francês Tzvetan Todorov em seu recente livro “O medo dos bárbaros”(Vozes 2010) adverte que se não superarmos o medo e o ressentimento e não assumirmos a responsabilidade coletiva e o respeito universal não teremos como proteger nosso frágil planeta e a vida na Terra já ameaçada.
O tema do respeito nos remete a Albert Schweitzer (1875-1965), prêmio Nobel da Paz de 1952. Da Alsácia, era um dos mais eminentes teólogos de seu tempo. Seu livro “A história da pesquisa sobre a vida de Jesus” é um clássico por mostrar que não se pode escrever cientificamente uma biografia de Jesus. Os evangelhos contém história mas não são livros históricos. São teologias que usam fatos históricos e narrativas com o objetivo de mostrar a significação de Jesus para a salvação do mundo. Por isso, sabemos pouco do real Jesus de Nazaré. Schweitzer comprendeu: histórico mesmo é o Sermão da Montanha e importa vivê-lo. Abandonou a cátedra de teologia, deixou de dar concertos de Bach (era um de seus melhores intérpretes) e se inscreveu na faculdade de medicina. Formado, foi a Lambarene no Gabão, na Africa, para fundar um hospital e servir a hansenianos. E ai trabalhou, dentro das maiores limitações, por todo o resto de sua vida.
Confessa explicitamente:”o que precisamos não é enviar para lá missionários que queiram converter os africanos mas pessoas que se disponham a fazer para os pobres o que deve ser feito, caso o Sermão da Montanha e as palavras de Jesus possuam algum sentido. O que importa mesmo é, tornar-se um simples ser humano que, no espírito de Jesus, faz alguma coisa, por pequena que seja”.
No meio de seus afazares de médico, encontrou tempo para escrever. Seu principal livro é:”Respeito diante da vida” que ele colocou como o eixo articulador de toda ética. “O bem”, diz ele, “consiste em respeitar, conservar e elevar a vida até o seu máximo valor; o mal, em desrespeitar, destruir e impedir a vida de se desenvolver”. E conclui:”quando o ser humano aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante; a grande tragédia da vida é o que morre dentro do homem enquanto ele vive”.
Como é urgente ouvir e viver esta mensagem nos dias sombrios que a humanidade está atravessando.

Leonardo Boff é autor de “Convivência, Respeito, Tolerância”,Vozes 2006

Filme: Uma prova de amor


Uma menina, cheia de vida, vítima de câncer (leucemia) e a luta incansável de sua mãe e família pela cura. Mas não é só isso. O filme traz à tona o quanto o ser humano, principalmente na figura materna, aliado hoje às tecnologias e aos avanços da medicina, tenta de todas as maneiras reverter o rumo da história.
Para tentar salvar Kate (a filha com leucemia), Sara (a mãe) resolve – por uma indicação médica – dar à luz a outra menina (Anna), geneticamente criada para salvar a irmã. Anna nasce e é ela que abre o filme, aos 11 anos, dizendo que ela foi, ao contrário de muitos outros nascimentos, planejada e projetada especificamente para um determinado fim: salvar Kate. De cara nos deparamos com um depoimento de uma criança que nos questiona sobre os seus direitos, sobre a sua vida, e sobre o amor de seus pais para com ela.
No desenrolar do filme, descobrimos que Anna, desde os cinco anos, é submetida a uma série de intervenções, inclusive cirúrgicas, para salvar a irmã. No tempo real da história, Anna está prestes a ter que doar um rim, já que o quadro de Kate se deteriora a cada dia. É neste contexto que surpreendentemente vemos Anna procurar um advogado para exigir seus direitos, algo totalmente possível de acontecer, vide os conselhos tutelares.
Ela diz que está cansada de ajudar a irmã. Que nunca – nem sua mãe nem seu pai – lhe pediram autorização para doar sangue, medula ou células. Que ela quer ter o direito de viver bem, sem efeitos colaterais que terá de enfrentar por ter que, agora, doar o rim para a irmã. Afinal, ela é uma criança. Uma criança de direitos.
O argumento de Anna, na sociedade contemporânea que vivemos, é extremamente cabível. Anna, com ajuda do advogado, requer a chamada emancipação médica. Por ser criança de direitos, ela não quer submeter o seu corpo às vontades de seus pais. Anna processa os pais. E, nós observadores, ficamos divididos e angustiados com o drama. Afinal, Anna está errada? Anna é egoísta? Qual é o lugar de Anna na vida de seus pais? Se seus pais defendem Kate, quem defende Anna? Seus pais são culpados?
O drama é construído por uma narrativa envolvente. A história é, na verdade, costurada a partir dos pontos de vista dos principais personagens: Anna, sua mãe Sara, a irmã Kate, o pai Brian e o irmão Jesse. Como observadores, vamos acompanhando como a doença de Kate influencia e transforma o cotidiano de toda aquela família. Somos levados para cenas emocionantes, como o romance de Kate por um outro jovem (Taylor) vítima de câncer, o livro que Kate elabora com as poucas e ricas histórias de sua vida, e o passeio da família à praia.
O processo movido por Anna mexe profundamente com a família. Seu pai Brian se emociona e repensa suas atitudes. Sua mãe, advogada que largou tudo para cuidar de Kate, não entende o desejo de sua filha Anna. Dividida, ela mesmo resolve se defender no tribunal.
A cena que se passa no tribunal é reveladora da cumplicidade dos irmãos – Anna, Kate e Jesse – do sentimento de amizade, de força, de carinho e de superação mesmo na dor. Nesta altura, a história construída cai por terra, mas não tem mais jeito: ela já alcançou seu objetivo.
As cenas que se seguem são de uma sensibilidade tamanha.
Não adianta, não somos super heróis, o que não quer dizer que não somos poderosos, maravilhosos e dignos. A atuação do trio – mãe e filhas – é fenomenal.


Fonte: Revista.com