Oi meus queridos,
Nos dias de hoje, quando a
violência, o ódio, a falta de respeito ao próximo, o descaso absurdo para com a
vida (a nossa e a do outro!) os muitos preconceitos não disfarçados, e os
outros, “mascarados” como caridade, enfim, quando nada ou quase nada nos ajuda
a acreditar que ainda existe amor, bondade, acolhimento ao mais carente,
SOLIDARIEDADE, eis que me deparei com uma situação no mínimo digna de ser
passada à frente, não só como lição de vida, mas mais que tudo como lição de
amor!
Moro próximo ao Butantã,
numa travessa da Av. Rio Pequeno. Quando me mudei para cá, em pleno verão,
todos os dias quando me dirigia ao Icesp, encontrava um senhor idoso, puxando
um carrinho de entulhos, e seguido por dois cães (muito bonitos, por sinal!),
um mais feroz avançava contra pessoas ou veículos que pudessem ameaçar seu dono,
nunca mais o vi, acho que deve ter morrido atropelado, o segundo, grande, forte
(tenho certeza que é de raça), anda ao lado dele o tempo todo.
Ambos vivem nas ruas.
A carroça, não sei se ele
perdeu ou roubaram... Sobraram-lhe alguns trapos, um colchão esfarrapado, dois
ou três cobertores que almas generosas lhe deram.
Uma noite dessas, com um
frio de quase 0°, a van da prefeitura parou e disse-lhe que iriam leva-lo para
um albergue, onde além de um banho quente, roupas limpas, um bom prato de sopa
e uma cama aquecida lhe dariam abrigo e proteção.
Fiquei parada assistindo a
cena.
Seu Agnaldo (acho que é esse
o nome dele) perguntou muito respeitoso se poderia levar “SEU AMIGO”, e apontou
para o cão. O funcionário da prefeitura disse que não, o albergue não
comportava animais.
Seu Agnaldo sorriu
tristemente e agradeceu a oferta, mas como disse ele, “eu me protejo, e ele que
me cuida todo o tempo, inclusive quando bebo demais, fica na rua, morre de frio
e fome? Não moço, apesar do frio, fico com meu amigo”.
Meus olhos encheram de
lágrimas e eu fiquei me perguntando, como alguém que passa por uma situação tão
devastadora, pode não esquecer o sentido da amizade?
Dias atrás, não sei se por
descuido, maldade, ou sei lá o quê, atropelaram o cachorro. Na verdade, iam
atropelar o dono, que estava bêbado e não viu a moto, mas, o cachorro avançou
contra o motoqueiro e salvou o AMIGO.
Perguntei-lhe se ele tem
casa, parentes, ele respondeu que sim, mas a família não o aceita e nem ele
quer bem a ela.
Calei-me, quem sou eu para julgar
o que não sei ou conheço?!
Fizemos um pacto, a Tatá e
eu, de levar sopa (bem forte!) para a “dupla”.
Cada vez que lhe entregamos
a comida, ele agradece e come com tanta alegria, que até parece ser um
banquete. Depois, com todo amor, pega a porção que pertence ao “companheiro” e
coloca bem próximo de sua boca, para que ele se alimente.
Hoje, quando subi para honrar
meu compromisso, vi o cão deitado sob um cobertor novo, limpo. Brinquei com
ele, perguntando se eles haviam “trocado” de agasalho, ao que ele respondeu com
um quase sorriso: Hoje, dona, ele tá precisando mais que eu desse calor... e antes
de abrir seu pote de sopa, agradeceu e foi alimentar o seu parceiro!
Ah! se os homens ainda
praticassem o bem, sem olhar a quem, se acolhessem o irmão sem segundas, ou
terceiras intenções, se lembrassem que todos nós nascemos nus, e ao partir, só
levaremos a mortalha, que a terra há de comer...
Ah! se os que dizem amar a
Deus, tivessem em mente o mais importante dos mandamentos: Ama a Deus sobre
todas as coisas, e a teu próximo como a ti mesmo...
Como eu queria Senhor, ter
condições de acolher, acudir, compartir tudo o que TU me ofertas com tanta
benevolência, não só com os andarilhos, mas, também com seus animais (?)
de estimação!
Como eu gostaria PAI, que
nós não nos comportássemos como bichos, feras abatendo feras, cobras comendo
cobras...
Como eu sonho, Deus de
misericórdia, com o dia em que a TUA ILUMINAÇÃO aquecerá a alma e o coração dos
homens, e aí, para júbilo da natureza, das plantas e dos mares, das aves e dos
rios, dos animais e dos anjos, todos nós poderemos nos orgulhar, pois faremos
TUDO, para merecer a misericórdia de nos sentirmos dignos da Tua Paternidade.
Abençoados os que conhecem a
força e a glória do PAI, pois estes acatarão com AMOR o seu irmão.
Mil beijos,
Tania Pinheiro.
2 comentários:
Tania, por uns minutos, fiquei sem palavras. Esse post me comoveu. Concordo com tudo o que você disse e te dou os parabéns por auxiliar os dois amigos. Espero que um dia a humanidade seja digna do amor que os cães lhe dedicam. Beijos!
Sensibilíssimo esse seu post, Tania! Infelizmente, os corações foram para o freezer e deixaram de amar sem interesse... Poucos os que ainda contemplam o próximo colocando-se em seu lugar! Triste o envelhecer assim, em total desprezo pelos seus, e por nós, os outros, que passamos atropelando sentimentos sem avaliarmos consequências! Transportei sua história verídica para pessoas bem próximas que descartam os idosos como entulhos... Parabéns!
Beijos, Célia.
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