domingo, 24 de novembro de 2013

Como entender o TER e o SER.


Oi meus queridos,

Como sabemos, “quase” todos nós somos humanos, passíveis de erros e enganos, carentes, possessivos, altivos, donos da nossa verdade, e... inseguros, medrosos necessitados de colo físico e espiritual, apavorados ante a possibilidade de PERDER, o que sequer nos pertence.
Soube sexta-feira, que perdi uma amiga querida, que fez quimioterapia comigo. O câncer venceu a nossa linda gueixa. Ela era arrimo de família, no mais profundo sentido da palavra. Não se casou, cuidou dos pais e irmãos a vida toda, ajudou, com sua sabedoria, aconselhando os sobrinhos, mostrando-lhes os caminhos da vida, seus mistérios, sustos, dores e alegrias.
Quando saí do ICESP, chovia aquela garoa paulistana (que só tem aqui), olhei pro céu, sorri, pois sei que a minha amiga deve estar num lugar bem alto, cheio de flores, paz, aonde sua única obrigação será a felicidade. Instintivamente, agradeci o final de todo aquele sofrimento, dela e da família. Lívia sofreu demais! Mas, o Senhor que tudo sabe e tudo vê, deu-lhe finalmente a paz e o descanso, e o prêmio de sentar-se à Sua mesa.
Seja feliz, querida! Deus te abençoe e te ilumine muito. Saudades eternas e beijos no seu coração, meus e da Tatá que te gosta tanto!
Vim no ônibus pensando que temos o pavoroso hábito da propriedade: minha casa, meu carro, meus filhos, meus subalternos... Como assim, MEUS?
Quando Deus nos trouxe ao mundo, trouxe-nos nus, frágeis, precisando de nossa mãe e de seu leite, do pai, dos avós, enfim, de todos os “grandes” que nos rodeavam. Crescemos, estudamos, trabalhamos, construímos patrimônio (nem todos ficamos ricos ou poderosos), fizemos amigos, e conquistamos como nossos, tudo o que erroneamente cremos TER!
Aí, um AVC, um colapso cardíaco, um motoqueiro bêbado, uma bala perdida (?) nos atinge, e... PIMBA! Já foi.
De tudo o que lutamos para ter, levaremos a roupa do corpo, e se realmente for como creio, nossas lembranças e saudades.
Deixaremos saudade também, porém, independente do patrimônio, ficarão para trás as boas intenções. O que vai prevalecer é ganância, a certeza de posse, a avareza, a ambição, o lado feio de cada um aparecerá. Quanto mais $ e posses, menos união, lembranças bonitas de você e suas peripécias, saudade do seu sorriso e do abraço fraterno!
O ter, quando mal interpretado suplanta, esmaga, enterra o ser.
Mostramos nossas sequelas, mazelas, egoísmo, falsidade, desunião, e nenhuma fé, quando se da abertura do testamento e distribuição dos bens. É triste, mas real!
Tenho certeza que com a família da Lívia, isso não acontecerá, o amor de cada um pelo outro e o de todos por ela, não abrirá brecha para a mesquinhez!
Mas, e nós? Será que sabemos o que realmente vale na vida? Será que vemos no outro um igual, ou um adversário a ser derrubado? Será que temos consciência do que, de quem, e por que amamos? E a recíproca é verdadeira?
Às vezes meus queridos, olho em volta na minha casa, e vejo tanta quinquilharia as quais sou apegada, pelos mais diferentes motivos, e fico me perguntando, pra que tanto? Pra que tanta roupa de inverno, se na rua tantos morrem de frio? Por que não doar meus livros depois de tê-los lidos? Poderia transmitir conhecimento, alegria, força, fantasia... a tanta gente! Eu só escreveria na primeira página: leia e passe adiante! Mas, sou vítima do apego material, sou mesquinha no momento de dividir o dom da leitura. Me sinto pequena, apegada a coisas... O que li, guardei na memória e no coração, e daqui ninguém tira (só Deus).
O câncer mudou muito e em muito a minha vida, hoje enxergo o que não via... Valorizo tudo o que me rodeia, agradeço a Deus todos os dias pelo sol, pelo ar, por meu anjo de guarda, por minha família e amigos, por Tê-lo como Pai, e principalmente, por ser quem sou, com erros, defeitos, medos, até mesquinharias, mas lutando loucamente pra mudar conceitos errados dentro de mim. Tenho uma grande ajudante em meus aprimoramentos, minha filha entende de tanta coisa!
Não sou dona de nada, nem de ninguém, porém, também aqui a recíproca é verdadeira.
Amo a Deus, amo de paixão meus filhos e irmãos e seus pares, amo a vida, a Dra. Laura, o Dr. Felipe que me livraram do câncer, a Dra. Priscila, o Dr. Eduardo, meu Deus... quanta gente boa se deu, sem visar nada além da minha recuperação! Se eu fosse numerar cada enfermeira, atendente, recepcionista, maqueiros, ascensoristas, os anjinhos do CAIO que me cuidam e nunca me deixam sem um sorriso, e vocês, que nem o rosto eu conheço, mas tanto amor tem me dado!
Obrigada. Por tudo, tudo mesmo! Deus os abençoe!

Mil beijos,

Tania Pinheiro.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Comemorar o que?


Oi meus queridos,

A demora na postagem deve-se ao “Furaquinho”, que passou por nossas vidas, digo Tainá e eu, chamo de “inho”, pois se fosse “ão” vocês não estariam lendo essas bobagens.
Hoje, 20 de novembro, comemora-se o dia da Consciência Negra... (E eles eram inconscientes antes?!?)
Meu lado rebelde começa a discordar desde o nome dado ao dia. Nossas “neguinhas e negões” começam a perceber a sua REAL BELEZA, e já nem usam mais Henê! Sou, como todo o brasileiro, negroide, e levo em minhas veias sangue forte, de guerreiros altivos, de mulheres parideiras e criadoras da sua prole.
Não concordo que em algum momento, aboliu-se a escravidão, libertou-se o povo negro para viver como povo! Um país falido, com uma corte de idiotas: a natureza e suas malandragens, que fazia chover ou queimar o sol sem parar, derrubou o café, as autarquias, a altivez dos grãos senhores, que se viram forçados a fugir, ou contratar colonos europeus... Porém, isso não é aula de história e sim a minha opinião sobre o 20 de novembro!
Tirando os negros nos esportes, onde de longe, mostram sua superioridade, quem são nossos lideres dignos de respeito e admiração? A atriz Ruth de Souza? Cartola, Pixinguinha, Augusto dos Anjos, o Aleijadinho (que Deus os tenha e deixe a Ruth um pouco mais conosco). Não sei qual foi o bem que Pelé fez a Pátria, mas, louvado seja o Grande Pai, pois pelo menos para falar o nome do Ministro Joaquim Barbosa, podemos até soberbamente abrir a boca e dizer: Esse é um líder negro!
É claro que, além dos pouquíssimos exemplos citados, existem milhares de irmãos, matando um leão por dia e exigindo o respeito devido a sua raça e sua cor.
Sou absolutamente contra a Lei de Cotas: nosso problema é social, é educação da mesma qualidade para todos os brasileiros, porque você pode ser “polaco” como dizem em Santa Catarina (branco, louro, com lindos olhos azuis), sendo pobre, seu destino é a escola pública e, a partir daí... o filho do rico que estuda em grandes colégios, com esporte, lazer, biblioteca digital, alimentação nota 10, tempo para curtir depois da aula... pois é, polaco, ele já está quase na linha de chegada.
Conheci pintores, atores, escritores e poetas, profissionais liberais de diversas áreas, inclusive a medicina, Negros, cheios de orgulho. Costumo dizer, que preto é cor, sapato, cinto, pneu... Negro é raça!
O motivo deu estar escrevendo tudo isso é um só: não precisamos de uma data oficial para nos reconhecer e respeitarem nosso valor. Senão, que haja o dia do albino, do português da padaria, dos orientais, bolivianos, enfim, o que o “poder” achar que deve ser homenageado.
Eu já me daria por feliz, se alguém, instituísse o dia de prender corruptos, de capar estupradores, de caçar e fazer pagar por cada falcatrua cometida contra os brasileiros multicores, os presidentes, os secretários, ministros, deputados e senadores, enfim, essa maravilhosa gangue, que carrega satisfeita o “Estandarte do sanatório geral”!
Por ser e saber quem sou, todos os dias em que construo algo, apoio um irmão, preservo a natureza, respeito meu semelhante, todos os dias em que ainda habitar por aqui, são meus e dos meus semelhantes e assemelhados, dispensamos o feriado e as espúrias homenagens!
Viva Zumbi dos Palmares!
Axé e fé, irmãos de todas as raças e cores!
Deus te proteja, guarde e abençoe meu amado Brasil!


Mil beijos,

Tania Pinheiro.

sábado, 9 de novembro de 2013

Quanto apavoram os recomeços!


Oi meus queridos,

Pois é, o benefício pelo câncer acabou, o que tenho que fazer agora é procurar um psiquiatra (possivelmente mês a mês) e tentar continuar recebendo por conta dos zilhões de problemas que a depressão tem me propiciado. Ando totalmente a flor da pele!
Estou tomando hormônio para equilibrar o meu humor, pela manhã tomo 3 compridos de sertralina, à noite tomo 1 diazepam + 2 amitriptilinas para dormir. O pior é que eu não durmo, e quando durmo, falo a noite toda, principalmente com os meus pais (que já morreram), saio andando pela casa, sem destino. A pobre da Tainá não sabe o que é um sono tranquilo sei lá há quanto tempo...
Tem horas que não lembro o que comi hoje, mas, falo naturalmente da primeira apresentação artística da Tatá na escolinha (ela só tinha 3 anos).
Em certas ocasiões esqueço o nome das pessoas, fico embaraçada ao chama-las de queridas, em outras, pior, esqueço o assunto que conversávamos.
Tem dias, que gostaria de jogar tudo pro alto: família, amigos, tratamento, e, ir em frente feliz e livre ao encontro do eterno descansar!
Em outras ocasiões, me torturo por não ter sido mais “esperta” por achar que nada vale mais num homem que seu caráter, sua moral. Eu poderia ter feito um bom “pé de meia”, se não fosse tão idiotamente honesta, cobrando preço justo pelo meu trabalho, ensinando meus filhos a respeitar a propriedade e os direitos dos outros. Não tivesse sido tão tonta, defendendo o que EU acreditava ser o certo, tendo no peito a certeza, que só é digno do pão, aquele que semeou e colheu o trigo, retirou-lhe com respeito à casca, e grato a Deus, sovou e assou o que honestamente produziu.
Sei que no mundo existem alguns milhares de milhões de homens e mulheres assim. Alguns, por motivos só explicados por Deus, prosperam, passando a seus dependentes a importância de ganhar com o trabalho cotidiano. Muitos, talvez a grande maioria, vivem uma vida moderada, sem grandes lampejos de alegria ou dor, amam ao Pai, a família, o trabalho, os amigos e, sempre que podem, tentam amparar um semelhante em pior situação.
No Icesp, onde me trato, cruzo diariamente com pessoas, que se vê nos olhos que nem sequer café da manhã tomaram. Porém, serenas, recebendo com bondade um tratamento que é seu por todos e quaisquer direitos: o penal, o humano, o moral e acima de todos, o respeito de saber que aquela pessoa paga impostos acharcantes, desumanos e imorais, a uma corja, que além do falar bonito, sorri sempre o mesmo sorriso, são incapazes de olhar para o lado e reconhecer, como dizem as escrituras, “o seu irmão”!
Ainda em tratamento, sem trabalho ou perspectiva de, tendo ao lado meu anjo protetor, a Tainá e acima de nós o Grande Mestre do Universo, sinto-me aos 60 anos tão apavorada, como se tivesse 10. Sei que só tenho dois caminhos: enfrentar com a cabeça erguida, confiante nos bons que ainda me rodeiam, respirar fundo, fechar os olhos, agradecer a Deus pela vida e tudo de lindo que ela me deu... Ou procurar o pessoal da Playboy, mostrar a perfeição de trabalho executado pelo Dr. Márcio Paulino, imediatamente após a retirada do tumor, ofertando de brinde a chamada da matéria: Cabeça de 100, corpinho de 50, pernas de 30... e um par de seios de 15 anos jamais apalpados! Quem sabe? Vai que dá certo?! Doida pra isso eu sou.

Mil beijos,

Tania Pinheiro.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

... eu só queria entender!


Oi meus queridos,

Estava com saudades, mas, por mil e um motivos não deu para postar antes.
Hoje, não abri a janela do quarto, tampouco a do meu coração.
Esfriou, choveu, São Pedro se confundiu e trocou o feriado de finados.
Amanhã vou fazer uma visita ao INSS. São sempre angustiantes, apertam o peito, mexem com a cabeça e a alma. É exatamente na véspera da perícia que avalio o quanto não fiz nada de útil na minha vida! Não pra mim, nem para os que realmente mais amo.
Participei de sei lá quantos mutirões de casa própria, ajudei a levantar a renda, a estima, a vontade de sonhar, de pessoas que hoje, provavelmente, sequer lembrem que eu existo, e são gratas ao político ladrão que levou no mínimo a metade do preço do projeto inicial!
Meus filhos cresceram, são donos de si. Meus pais morreram, sabe-se lá, se já não estão aptos a voltar a conviver conosco!
Não tenho marido (nem me daria novamente esse castigo), nem namorados, odeio bailes da melhor idade, não tenho saco pra ver televisão, e não domino o mundo virtual... Às vezes, sinto que morri e esqueceram de enterrar.
Na entrevista de amanhã, muito o que farei, acontecerá ou não, a partir do resultado.
Não aceito piedade, dó, ou qualquer sinônimo para tais palavras. Plantei, a partir daí, vou colher!
Sinto saudade do tempo em que eu chorava ouvindo uma canção ou assistindo um lindo filme. Não faço mais isso, não consigo.
Sinto que adorava ficar maquinando “gostosuras” para alimentar as minhas gostosuras. Também isso, tenho feito muito pouco.
Decretei meu auto ostracismo, e mastigo em minha concha toda a angústia, medo, ódio, abandono, todos os maus sentimentos que me invadem. Depois, lavo o rosto, balanço os cabelos, fecho a ostra e volto toda faceira a conviver com os outros. Tudo maquiagem, tudo mentirinha, tudo fuga, medo e uma enorme solidão.
O pior, é que a tendência é piorar cada vez mais! Velhice é igual à rabugice (risos).
Perdoem despejar aqui, tanta coisa feia e ruim, mas a fora os ouvidos da minha filha, este é o único lugar que possuo, sei que por carinho, vocês vão entender e perdoar.
Amo, mesmo sem jamais ter visto, cada amigo que me visita com seu carinho e acolhimento. Saudades!

Mil beijos,
Tania Pinheiro.