segunda-feira, 31 de março de 2014

Seu cantinho no meu coração nunca será ocupado...


Oi meus queridos,

É com lágrimas correndo pela face, que começo essa postagem. Meu coração dói tanto, que sinto medo que de repente, ele se negue em continuar batendo.

Ontem, faltando pouco para a hora do Ângelus (eram 17:58), minha filha me ligou em pranto profundo, quase sem voz e me disse: mãe, tenho algo muito difícil pra te contar, aconteceu uma coisa muito triste, muito dolorosa, foi com o Leandro, nosso amigo, seu quase filho, meu quase irmão, nosso palhaço galanteador particular... se foi, o Leandro faleceu.

Minha primeira reação, foi não ter reação. Estive com ele algumas horas antes, brincamos, rimos, e como sempre fazíamos, trocamos um abraço apertado e um beijo barulhento!

“Morreu? Como assim?”. A ficha entalou e não conseguia cair. Aí, consegui chorar. Muito!

O Leandro, que eu chamava de Léo por ser muito parecido com o meu filho, foi a primeira pessoa que me recebeu no Icesp. Foi ele quem gerou meu prontuário, e me acompanhou nesses quase três anos em que estou na luta.

Ele foi ao meu aniversário de 59 anos, que comemoramos na Cachaçaria, com samba, cerveja e risadas! Convidei a bancada toda do Icesp, mas só ele compareceu.

Ele veio a minha casa, me trazer rosas, embaixo de muita chuva, quando fiz 60 anos. Bebemos e comemos muito, rodeados de pessoas queridas, e mais uma vez, não faltaram piadas, pilherias, abraços, AMIZADE! Até banho pra se aprontar pra continuar noite adentro na balada ele tomou.

Nunca vi o Le sem um sorriso. Nunca cheguei à bancada sem abraçar e beijar cada um, começando sempre por ele!

Quando estive internada quase a beira da morte, ele trocava seu horário de almoço, por uma visita para mim. Não sei dizer quantas vezes ele segurou as mãos da Tatá e disse: “Força, ela vai sair dessa”! E se minha filha balançasse um pouquinho na fé, ele fechava a cara (dá pra imaginar?) e falava sério: “Mulher, nós estamos falando de Tania Pinheiro”. Não tinha como não animar minha princesa.

Sabe, Leandro, eu acredito piamente em Deus e no que Ele determina na sua misericórdia. Eu acredito que Ele é o único capaz de separar o “joio do trigo”, e você, certamente, está no montinho que vai “virar pão”, para alimentar nossas almas, coração e fé!

Você, que já virou estrelinha, vai servir de incentivo a muitos beijos de amor... Você, que continua “semi-anjo” continuará ajudando a quem precisa, trazendo aos nossos lábios um sorriso de amor e saudade, cada vez que lembrarmos de ti.

Apesar de São-paulino (como o meu filho), refuto a você como defeitos, somente o jeito de moleque metido a garanhão, a capacidade de frases e trocadilhos infames e nunca ter me convidado pra um pagode na laje, fosse de quem fosse!

Tenho certeza que a sua chegada ao outro lado foi cheia de luz, de ternura... Que os querubins, arcanjos, anjos e serafins riram muito das suas palhaçadas.

Nós que ficamos, estamos consumidos pela dor e pela saudade, mas na certeza de que você está em paz, na graça e glória do Pai Maior!

A Tatá e eu estamos muito, muito tristes mesmo, porém, pela nossa fé e por amá-lo tanto, esse sentimento se transforma em esperança e resignação, pois sabemos que não acabou por aqui, ainda vamos nos esbarrar nesse mundão de meu Deus!

Segue em paz, que o Senhor te abençoe, te guarde, proteja e ilumine sempre, meu filho.



O Tô com Aquilo hoje, homenageia o seu Tricolor!!!  

Milhões de beijos.
Amamos você!


Tania Pinheiro.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Escutar, entender, acolher...


Oi meus queridos,

Há uns dias passados, fui ao ICESP em busca de ajuda para começar a fazer a fisioterapia do meu joelho (lá atrás, eu conto a saga que foram os meus tombos), estou encontrando dificuldades, pois além de ser uma paciente em tratamento de câncer, a quimioterapia intensificou uma osteoporose, o que me deixa ainda mais vulnerável no que se refere a fraturas e quedas.
Como não tinha consulta marcada, fiquei “sentadinha e bonitinha”, aguardando uma brecha para conversar com a assistente social.
Ao meu lado, uma mulher, de seus 40 e poucos anos, chorava copiosamente. Como vocês sabem, sou atrevida, intrometida, e solidária, e por esses motivos me dei o direito de perguntar se poderia ajudar em alguma coisa.
“Bia” (nome que inventei) contou-me estar com um carcinoma na mama direita, e, que tinha certeza de que na hora que fizesse a cirurgia, ficaria só, perderia a mama, o marido, a vontade de viver...
Perguntei então, se o procedimento indicado fora a mastectomia (retirada total da mama). Ela disse que não sabia ainda, pois aquela era a primeira vez que estava indo ao hospital para cumprir os tramites que lhe permitiriam a cirurgia e o tratamento.
Como é de conhecimento geral, fiz em junho de 2011 uma quadrantectomia, para retirar um nódulo do seio esquerdo. Pouco tempo depois, tive que passar por outra cirurgia de esvaziamento axilar, já que o câncer havia voltado. Fiz quimio e radioterapia, tive alguns (muitos) problemas no decorrer desses quase 3 anos.
Vi gente querida morrer, se curar, tentei confortar famílias inconformadas, assisti amigos confortando minha filha... “Não foi mole não”.
Como sou abusada e totalmente sem pudor, abri a blusa e mostrei a ela a OBRA DE ARTE que estavam os meus seios. Sem modéstia, até vale uma foto na Playboy (risos).
O milagre foi executado pelas equipes de dois grandes profissionais, Dr. Felipe Martins de Andrade, que retirou o nódulo, e a do Dr. Márcio Paulino Costa, que fez a plástica. Ela olhava os meus seios encantada.
Então, perguntei por que ela afirmava que perderia a mama? Isso já fora determinado pela equipe oncológica? Não!
Se acaso, por vontade de Deus o procedimento fosse esse, o que impediria que ela se submetesse a uma plástica tão linda quanto a minha? Nada!
Aquele medo, desespero, falta de fé na competência dos profissionais que iriam atendê-la, e, principalmente, na misericórdia divina, mudaria em alguma coisa a realidade que ela estava vivendo? Não.
Ficamos alguns minutos em silêncio, ela já não chorava mais...
De repente, pra minha surpresa, ela me perguntou: E o meu marido, como será que ele vai reagir? Ele diz que adora os meus seios...
Sorri, sem piedade ou espírito crítico, somente sorri e disse a “Bia”, que graças a Deus, não tenho marido, “marida”, namorado ou namorada, ficante, ou pegante, mas se esse fosse o caso, e a pessoa que estivesse ao meu lado dizendo que me amava “balançasse” diante do problema, se UM SEIO, valesse mais que o meu carinho, respeito, amor, compreensão e parceria, enfim, sentimentos que não se compram no shopping, de minha parte eu queria ESTE SER bem longe, de preferência na Ucrânia, no Irã ou quem sabe na PQP!
Não somos PARTES, somos TODO!
Acho inadmissível ser encarada como uma peça de filé, uma fruta, ou um peixe fresco! Sou GENTE! Penso, sinto, amo, choro, rio, luto, tenho raiva, gratidão... Sem essa de me comparar a um par de tetas!
Quando dei por mim, estávamos ambas as gargalhadas. A assistente social parada a nossa frente, estava com cara de “Hã?!” nos despedimos com um grande e sincero abraço, trocamos telefones e email, convidei-a a conhecer meu tesouro (Tatá), o blog e quem sabe até as baladas do Butantã (risos). As duas entraram na sala, fecharam a porta, e eu continuei “sentadinha bonitinha”, esperando minha vez de ser atendida.
Tenho certeza que o Pai Maior fará pela “Bia”, o que for melhor para ela. Torço, por isso, do fundo do coração.
P.S. Decididamente, adoro não ter parceiro(a), em compensação, estou louca para comprar um peixinho vermelho.

Mil beijos,
Tania Pinheiro.


sexta-feira, 7 de março de 2014

Enfim, bem vindo 2014!


Oi meus queridos,

Finalmente, todos os que estavam se guardando pra quando o carnaval chegasse, foliaram, descansaram, encheram a cara, se encheram de dívidas (alguns de dúvidas), soltaram a franga, enfim, meus amados, o ano começa na próxima segunda-feira 10 de março, com lua, chuva, frio ou calor.
Voltamos à vida!
Tatá e eu passamos o carnaval em casa, assistindo os desfiles das escolas a noite e praticando a ação do desapego durante o dia, separando o que não nos serve mais (roupas, calçados, panelas...), coisas que já não nos são úteis, mas podem ajudar a alguém.
Aos 61 anos (nunca fui de ir a bailes, blocos, mela-melas), desde que me entendo por gente, o carnaval representava momentos de puro prazer e alegria. Quando solteira, Ricardo, meu irmão, e eu colocávamos o colchão na sala, fazíamos vários tipos de petiscos, abastecíamos a geladeira de cerveja, e ficávamos da primeira a última escola de samba desfilar, grudados na TV. Levei o costume para o casamento, e o bom é que meu falecido marido também não gostava das festas de rua e de salão. Ao ficar só ganhei por vários anos a companhia da minha filha, do Ricardo (de novo), de alguns amigos...
Dos meus 15 aos 61 anos, venho perdendo o prazer, a alegria, o orgulho, a vontade de torcer pela minha Mangueira do coração.
Se de um lado cresceu o luxo das enormes alegorias, os milhões de plumas e penas de pavões e faisões, as “modelos e manequins”, atores e jogadores, o número de componentes da bateria; diminuíram a poesia, o samba no pé, a participação da comunidade, quase sumiram as roupas, não só dos destaques, como também das musas, madrinhas, rainhas, passistas, e celebridades instantâneas!
Poucos são os sambas que tocam o coração, muitos são os enredos financiados, o troca-troca de puxadores, mestre-sala e porta-bandeira, carnavalescos e criadores de paixão, que levam nos olhos as lágrimas, e na boca o samba da escola do coração.
Esse ano, Tatá e eu assistimos até o sono bater (e até que nem foi tão tarde), não havia petiscos ou cervejinha, e foram raríssimos os momentos de emoção profunda! TRISTE.
Eu amava futebol. Sou corinthiana de alma, porém não me lembro do último jogo que fiz questão de assistir.
Em quase tudo na nossa vida cotidiana, convivemos com denúncia de propinas, maracutaias, patifarias, resultados combinados antecipadamente, que chegamos a nos sentir IDIOTAS, perdendo a noite de sono ou a tarde de sol, sentados a frente da TV, não sei explicar racionalmente o por quê!?!
Mas, ano novo - vida nova. Estou pensando seriamente em retornar ao estilo antigo do blog: menos político, mais humano! O problema é que 45 anos escrevendo e atuando em projetos políticos, torna difícil demais perder o vício.
Mas quero voltar a conversar com pessoas, que como eu, passam ou passaram pelo câncer, quero falar sobre sexo durante e depois da doença, quero retornar a resgatar a alegria que existe em mim e que adoro dividir, quero voltar a escrever bobagens, enfim festejar a graça de estar viva, com o blog ainda funcionando (graças a minha Tatá que cada dia está mais forte, linda, decidida a se encontrar, tocar a vida), UFA! E o mais importante: Agradecer, agradecer e agradecer: A Deus, a vida, a muitos amigos e parceiros que me acompanham há tanto tempo!
Decididamente, “viver é melhor que sonhar”, mesmo em anos de pesadelos “tipo” Copa do Mundo e Eleições.
Amo vocês.

Mil beijos,

Tania Pinheiro.